
“Já não se fala em outra coisa”, é o que dizem, embora seja igualmente verdade que o assunto sobre o qual as pessoas supostamente estariam comentando em todas as rodas de conversa é ignorado por muita gente. Por quase todos, é verdade. Fiquemos na roda da sorveteria. Lá, os temas da vez eram, hierarquicamente, a derrota do Ceará para o Icasa, o clima de segunda-feira que se instala no final de domingo e a infecção pulmonar de Lula.
Drive não era sequer o oitavo tópico na lista dos mais discutidos, tendo ficado atrás da eleição de Putin (com 64% dos votos e 96% das urnas apuradas, ficou decidido que Vlad será o próximo mandatário da Rússia), dos boatos de que Angelina Jolie estaria anoréxica (a bela foi vista comprando no McDonald’s, em LA) e de uma série de outras notícias sem importância.
De qualquer forma, continuo acreditando que realmente valha a pena ir dormir 50 minutos além do horário normal apenas para assentar mais um tijolinho na fabulosa muralha de impressões generalistas de que é composta a espinha dorsal da internet.
Sendo assim, vamos lá.
Drive é um filmaço. Honestamente, aprecio a maneira como a câmera foca o escorpião em relevo na jaqueta branca enquanto nosso herói ginga cansado até o apartamento no edifício de paredes bolorentas. Um gingado até certo ponto mais próximo do John Travolta de Os embalos de sábado à noite que do Javier Bardem de Onde os fracos não têm vez.
É um motivo considerável? Tanto quanto qualquer outro.
Outra razão para ter saído do cinema superempolgado após a sessão é a trilha sonora. Outra: a escolha dos atores. Outra: as luvas pretas. Outra: o silêncio. Outra: o enigma do protagonista. Outra: a violência. Mais uma: o desempenho dos coadjuvantes. Mas o que me leva a querer ver Drive novamente é resultado de uma intrincada equação em cujo centro nervoso farejo essa áurea de clássico dos 1980 feito nos 2000.
Conclusão: Drive é também um típico filme-fetiche. Não há nada mais surrado que uma jaqueta com estampa de escorpião. No entanto, como é imponente.
Não tenho problema em admitir que, por uma série de razões, inclusive porque é fantástica, torna-se facílimo gostar da fita. Coloco-a sem receio num canto especial da estante, ao lado de Blade Runner, Taxi Driver e Pulp Fiction.
Por que esses filmes estão ali é que não sei responder.
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