
E quando não se sabe o que fazer? E nem aonde ir? É habitual perder-se e reencontrar-se várias vezes ao dia, diria até que é possível dar de cara com um tipo assim que encontre validade em ver repetir-se o mesmo arsenal de imposturas a vida inteira, sequer parando para considerar que, bom, talvez fosse hora de colocar um ponto final nessas coisas e, com alguma sorte, encerrar um ciclo e começar outro. Qual o quê. Não é bem assim que a banda toca, diz minha mãe, e continua, de modo geral sofremos ao tentar colocar as coisas nos seus devidos lugares.
As coisas insistem em ocupar latitudes inusitadas, as coisas preferem estar onde não podem estar, as coisas seguem desejando não serem o que são: coisas, e saem por aí operando milagretes, transgredindo muretas e saltando pequenos obstáculos, mas, olhem bem e reparem com honestidade, não há nada que não possamos controlar.
Não há nada que não possamos controlar.
Disse isso sem se preocupar com a ideia que fazia da exatidão, disse satisfazendo-se amplamente com a ideia que tinha da ideia. Entropia, pra ser sincero. Sistemas que se consomem, energias que se dissipam sem que se mova um só músculo, pelo menos assim acontece, ao correr do dia pensou que talvez fosse realmente preciso terceirizar parte do comando das coisas a que vulgarmente atribuía vida, dito de outra maneira, era importante não assumir sozinho a responsabilidade por tudo, pretendia atrelar decisões a outras decisões cuja origem e motivo partiam antes de outras de pessoas que dele mesmo.
Um emprego, um doutorado, filhos, família, uma casa na serra, até os livros, até o controle mediante religião ou qualquer outra coisa, o controle de si. Tudo era essa espécie de exterioridade com a qual contamos, na verdade a qual apelamos para que nosso barquinho furado afunde menos velozmente.
Hoje meu barquinho afundou bem pouco, mas ontem, bem, ontem as coisas degringolaram.
Esperava entender o que estivesse escrito no caderno quando se passassem uma semana, um mês, um ano. Não sabia se podia, mas tentaria. Sim, tentaria.
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