Dia dos Namorados é uma festa só. Por todo canto vêem-se casais andando de mãos bem apertadas, mais até do que nos dias normais, mais até do que se tivessem acabado de descobrir que estão apaixonados. Eles caminham abraçando-se como se não houvesse amanhã, como se todas as rosas vermelhas do mundo estivessem agora mesmo sendo despetaladas sobre as suas cabeças abençoadas. Estão felizes como crianças presas numa bolha de sabão. Numa mão, carregam a sacola dos presentes: pares de sandália da Riachuelo, C&A e camisetas Renner, além dos livros que encabeçam as listas de venda do momento. Na outra, seguram a mão pendente do parceiro molhada de suor.
É noite, e faz calor em Fortaleza.
Namorados são animais estranhos, mas não a ponto de serem diferentes. Em verdade, são bem parecidos. Numa praça de alimentação de shopping center, por exemplo, sentam-se devagarinho, repletos de promessas de amor. Os homens pedem licença com os olhos a suas pombinhas e puxam a cadeira. Elas riem muito intimamente, desejando no fundo que todo dia fosse assim, e se sentam na cadeira, sacramentando um cavalheirismo que, de tão canhestro, soa dispensável. Eles agacham-se, não sem antes percorrer o espaço numa rápida verificação do terreno. Instintivamente, procuram machos alfas que possam representar alguma ameaça. Só depois se sentem mais relaxados.
Casais enamorados não comem feijoada, panelada, cozido de carneiro. Isso deixaria os lábios engordurados, e eles precisam da boca limpinha para o final de noite. O cardápio do Dia dos Namorados é feito de comidinhas menos grosseiras. Como macarronada ou sushi. De posse de seus pratos, dedicam-se à mastigação silenciosamente, sem trocar palavra. Apenas repetem um ritual. Entretanto, uma parcela significativa empenha-se severamente em transformar esse instante em algo mágico, dirigindo olhares maravilhados a seu objeto de dedicação enquanto separam as uvas passas num canto do prato.
Nesse dia, as mulheres entendem que os homens realmente não se importam com roupa. Uma camisa pólo, calça jeans e sapato social, além de acessórios eventuais, cumprem o que diz a lei. Os homens, por sua vez, compreendem que as mulheres só sossegam em datas especiais quando arrancam cada pelinho desconfortável do corpo. Está ali, na frente. Sobrancelha, buço, axila. Está por baixo da roupa. Contorno, virilha etc.
Hora de voltar pra casa ou, quem sabe, parar num motel bem legal. Aquele com motivos indianos? Pode ser. O que tem promoção? Passe adiante. O retorno, barriga cheia e coração apertado de tanto amor, é sonolento. Junte-se a isso o ar-condicionado do carro ou o ridículo de estar num ônibus, sobraçando sacolas, encarando uma vendedora da Casa Pio. Corta qualquer clima.
A chegada em casa é apoteótica. Uns sequer acendem a luz: escorregam maliciosamente até a cama. Outros certificam-se de que todos os objetos da casa – televisão, DVD, máquina de lavar – estão lá mesmo. Só depois entregam-se aos jogos de amor.
É noite, e faz calor em Fortaleza.
Namorados são animais estranhos, mas não a ponto de serem diferentes. Em verdade, são bem parecidos. Numa praça de alimentação de shopping center, por exemplo, sentam-se devagarinho, repletos de promessas de amor. Os homens pedem licença com os olhos a suas pombinhas e puxam a cadeira. Elas riem muito intimamente, desejando no fundo que todo dia fosse assim, e se sentam na cadeira, sacramentando um cavalheirismo que, de tão canhestro, soa dispensável. Eles agacham-se, não sem antes percorrer o espaço numa rápida verificação do terreno. Instintivamente, procuram machos alfas que possam representar alguma ameaça. Só depois se sentem mais relaxados.
Casais enamorados não comem feijoada, panelada, cozido de carneiro. Isso deixaria os lábios engordurados, e eles precisam da boca limpinha para o final de noite. O cardápio do Dia dos Namorados é feito de comidinhas menos grosseiras. Como macarronada ou sushi. De posse de seus pratos, dedicam-se à mastigação silenciosamente, sem trocar palavra. Apenas repetem um ritual. Entretanto, uma parcela significativa empenha-se severamente em transformar esse instante em algo mágico, dirigindo olhares maravilhados a seu objeto de dedicação enquanto separam as uvas passas num canto do prato.
Nesse dia, as mulheres entendem que os homens realmente não se importam com roupa. Uma camisa pólo, calça jeans e sapato social, além de acessórios eventuais, cumprem o que diz a lei. Os homens, por sua vez, compreendem que as mulheres só sossegam em datas especiais quando arrancam cada pelinho desconfortável do corpo. Está ali, na frente. Sobrancelha, buço, axila. Está por baixo da roupa. Contorno, virilha etc.
Hora de voltar pra casa ou, quem sabe, parar num motel bem legal. Aquele com motivos indianos? Pode ser. O que tem promoção? Passe adiante. O retorno, barriga cheia e coração apertado de tanto amor, é sonolento. Junte-se a isso o ar-condicionado do carro ou o ridículo de estar num ônibus, sobraçando sacolas, encarando uma vendedora da Casa Pio. Corta qualquer clima.
A chegada em casa é apoteótica. Uns sequer acendem a luz: escorregam maliciosamente até a cama. Outros certificam-se de que todos os objetos da casa – televisão, DVD, máquina de lavar – estão lá mesmo. Só depois entregam-se aos jogos de amor.
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