Para cada jargão corporativo
“in english” que cai no gosto do empresário descolado ou “startupeiro” de
primeira viagem, há pelo menos uma expressão cearense tão ou mais eficiente, que
qualquer um entende e cujos royalties se revertem automaticamente para a Casa
Manassés.
No Ceará, se você não é de Sobral
ou terminou a Casa de Cultura Britânica com nota dez em todos os semestres, fatalmente
terá dificuldades de entender uma palestra de qualquer firma de médio porte,
esteja ela sediada no Centro Fashion, na Nogueira Tower ou no BS Design.
Sim, porque o jargão
corporativo é praticamente outra língua, com seus “insights”, “mentoring”, “turnover”
e “approach”. Nesse universo discursivo, o cérebro não se decide se “speak” ou
fala, “do you know”? Então, a depender da plateia e do facilitador, uma
apresentação pode começar com pretensões de TEDx, mas, seja por inabilidade pessoal
ou indisposição do grupo, descambar para aquela aula de história da Mesopotâmia
que fazia todo mundo dormir na 7ª série.
Ora, como bom cearense, vi
nesse “gap” entre linguagem e público uma oportunidade de empreender e criar
minha própria “brand”, mas qual era o meu “business plan”? Eu precisava de um, agora
que estava prestes a me tornar um “self-employed”, e também porque minha
empresa partiria de um “budget” zero. Sem “cash”, a gente sabe que é difícil atingir
o nosso “target”, ainda que você não saiba qual é.
De todo modo, eu tinha de
tentar, nem que para isso eu tivesse de praticar a sutil arte de ligar o
foda-se (baita livro, por sinal), pensando “outside the box” 24/7 (24 horas por
dia, 7 dias por semana) e aplicando todo o meu “background” na construção de
uma ideia que fosse ao mesmo tempo simples como uma cocada e disruptiva feito
uma rasga-lata.
Ciente das dificuldades que teria
para rentabilizar o meu futuro negócio, pensei no que apenas eu poderia fazer. Seguindo
esse “feeling” e confiando plenamente no meu tirocínio, nasceu aí a ideia de
ajudar o conterrâneo aflito com a presença crescente de estrangeirismos no dia
a dia do mundo executivo.
Foi assim que decidi traduzir
construções frasais, criando o primeiro dicionário online de inglês
corporativo/Cearensês. Meu objetivo é tropicalizar terminologias emergentes no
Vale do Silício ao nosso cotidiano semiárido, tornando-as acessíveis tanto ao
negociante cujo “core business” é o pára-choque de carro na avenida José Bastos
ou o cicloativista que tem uma cafeteria e que trabalha num esquema de “coworking”.
Ainda em desenvolvimento, o projeto
tem por finalidade conciliar o que o bilinguismo empresarial separou, criando
uma espécie de “esperanto nativo”, ou seja, uma forma de comunicação verbal
única que cada filha e filho da terra de Alencar possa utilizar igualmente, sem
oprimir linguisticamente ninguém.
Assim, toda vez que um cearense
escutar agora o termo “gap”, saberá que se trata de oco. Do mesmo modo, “trend”
é aquilo que está na moda, como um dia estiveram a calça “saruel” ou aquele
short feminino com os bolsos pra fora; “staff” é o pessoal da firma; “pitch” é
jogar o H, passar o queixo ou vender seu peixe; “insight” é tipo um lampejo do
nada; “job” é um aperreio que a gente resolve em casa ou no trabalho; “brainstorm”
é o “toró de ideias”; “workaholic” é o famoso azilado; “feedback” é jogar a
real sobre um assunto; “briefing” é um resumo; e “happy hour” nada mais é que
os “birinights” de antigamente, na Volta da Jurema, no Clube da Caixa de
Messejana ou no espetinho da Guilherme Rocha.
Comentários