A exemplo do Natal, listarei aqui cinco cenas de ano novo, passagens do dia que marcaram, marcam ou marcarão profundamente a alma de um peregrino das estradas alencarinas, soldado da quentura do agreste litorâneo em pleno dezembro de meus deuses.
Quero aproveitar o ensejo, afinal não é
todo dia que dois terços da população nativa entre 18 e 29 anos – conceito ibegeéliano
de jovem – espicha o pescoço e mira longe no mapa, desejoso de cair nas CEs e BRs que cruzam o amarelado da paisagem cearense.
Então pretendo aproveitar a oportunidade de falar às ruas quase vazias, como gosto daqui, desta cidade, cada pedaço dela, sabendo-me só e só me dirigindo à estátua de Juraci ainda não fincada na Via Expressa, a avenida mágica, território de assaltos, signo da cidade mordida de medo e horror.
Então pretendo aproveitar a oportunidade de falar às ruas quase vazias, como gosto daqui, desta cidade, cada pedaço dela, sabendo-me só e só me dirigindo à estátua de Juraci ainda não fincada na Via Expressa, a avenida mágica, território de assaltos, signo da cidade mordida de medo e horror.
A nossa linha amarela, vermelha, que não
sei tanto da geografia alheia.
Tudo isso, sim, sim, a despeito do espírito
de porco que fecunda as planícies virtuais.
Vamos encarar a tarefa de seguir em frente
com alguma bossa, se nova ou velha, isso é pergunta que se faça daqui a muitos
anos, por enquanto me contento com apenas isto, nem poeta nem escritor nem
jornalista nem letrista nem desenhista nem realizador visual nem boêmio – bebo aquém
da conta – nem grande agente de mobilização dos espíritos, mas o que resta
agora, excetuadas todas as funcionalidades mais charmosas à disposição de um
jovem adulto?
O que não pode é 1) reclamar e ficar parado,
2) reclamar e fazer beicinho, 3) reclamar e fazer beicinho, paradinho no canto
enquanto esculacha geral, tornando crônica essa postura infantil, improdutiva e
copiosamente chorosa, a cidade vista sempre sob o mesmo par de óculos de quem,
tendo gozado não mais que seis meses de eixo sul-sudeste, retorna agora
inoculado não de cosmopolitismo, mas de qualquer coisa pior, um preconceito,
arrisco dizer, um sentimento beligerante injustificável.
É como desejar blasfemar e cuspir
impropérios contra os próprios pés e as próprias mãos porque estão imundos e já
não produzem nada de proveitoso. A cidade é nossos pés e nossas mãos, o resto é
muxoxo bobalheiresco.
Não é lição de moral. Não tenho estofo para
lição de moral, envergadura intelectual, presença de espírito, o que seja. Apenas
acho indecente portar-se de tal modo.
As cenas de ano novo prometem ser parecidas
com as de Natal? Não sei ainda, o giro pela cidade fica para daqui a pouco.