
A MORAL SEMPRE ERETA
Francis Santiago e Ruilivínio Bento& Silva
A grandeza de um político não reside na robustez de suas propostas nem em seu caráter excelso quando à frente da máquina pública. A explícita demonstração da musculatura de um candidato, a inequívoca expressão de sua excepcionalidade enquanto pessoa humana & homem democrata encontra-se invariavelmente em sua capacidade de fazer eleger um sucessor. Não obstante as regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) advoguem o contrário, esse sucessor pode, na contemporaneidade, ser não apenas fantoche, mas também fantasma. Apenas em condições extremas ele será um ente inanimado. Um poste sem serventia, por exemplo.
O caso não é de todo desinteressante. No atual contexto político cearense, impõe-se a reflexão sobre as possíveis vantagens de uma gestão que fosse orquestrada por um poste de luz elétrica como esses tantos que se veem à beira da Zé Bastos secundados por levas de travestis exibicionistas arrebitando seus potentados traseiros adquiridos mediante implantes de silicones em clínicas de relativo glamour.
Consideremos o poste engajado, que não seria pichado nem repleto de algaravias de arraias, tampouco chafurdado pela urina oleosa após anos e anos de serviços prestados a bêbados e cachorros. Pensemos num poste ideal, mergulhado no vácuo, semque lhe fossem dirigidas quaisquer forças, gravitacional ou de outra natureza. Um poste furado, de concreto, medindo de 7,5 a 10 metros, comprido, reto como convém, inquebrantável e incorruptível. Não um galalau de alta tensão que se projetasse infinitamente acima das nossas cabeças, denotando, por vocação, claro distanciamento de classe. Fiquemos com um desses membros de rua, um poste cujas linhas avancem em progressão aritmética, num suave crescendo, exalando poesia matemática e discrição no servir.
Tal poste seria necessariamente um destrambelho no trato da coisa pública? Representaria apocalipse maior que o praticado por maus gestores? Decerto que não. Tal poste jamais se vergaria à fome de cargos dos apoiadores. Mesmo que quisesse. Sua estrutura concreta o impediria de arregar. Brochar, jamais. O lema seria: por um membro inexpugnável para Fortaleza.
A literatura política é rarefeita quando se trata de objetos que assumem misteriosamente o comando de cidades, estados e nações. Há casos, entretanto. Em São João do Meriti, um fogão quatro bocas, uma das quais entupida, erradicou a miséria em apenas oito anos de mando. Num pequeno município do interior da Bahia, uma cama de solteiro presidiu com elevado sentido cívico os destinos de 30 mil habitantes. Foi reeleita para mais um governo. Em Saboeiro, no Ceará, um tripé de madeira expandiu a oferta de empregos e garantiu acesso a creches etc. No interior do Rio Grande do Sul, um pepino gigante foi o responsável pela descriminalização da maconha.
Por que um poste de energia não haveria de obter bons resultados em Fortaleza? Suas vantagens são inúmeras: seria osso duro de roer na Câmara Municipal e um falo sempre em riste contra os corruptos, além de reunir know-how no arranjo de redes e experiência na lida das intempéries climáticas. Por essas e outras, Aerolândia vota no poste. E arremessa o par de sapatos alheio no cabo de energia elétrica, eterno amuleto da molecagem suburbana.
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