ESCAVAÇÃO MOVIE E O HOMO RETRÔ
Para surpresa geral e felicidade irrestrita dos professores de cursinho, os primeiros resultados da maior escavação paleontológica do Nordeste começam a surgir. Realizada no Araripe, na região mítica do Cariri cearense, terra de homens curtidos na fé em Padre Cícero, a empreitada científica reúne profissionais de áreas diversas: literatura, cinema, gastronomia, teatro, música e, eventualmente, Geografia e História. A meia entrada para estudantes foi banida do evento. A UNE ficou de mandar nota, mas até agora nada.
Com exclusividade, Aerolândia entrevistou o diretor Marcos Paulo (Assalto ao Banco Central), que acompanha os trabalhos e promete para 2014 estrear filme baseado na suarenta iniciativa. “Essa escavação será um fenômeno quando levada às telas por mim”, revelou. “Quero Marco Ricca no staff. Ele vai fazer um zumbi cangaceiro pré-cambriano que volta do mundo dos mortos para atormentar engenheiros do Metrofor. Teremos também a linda Hermila Guedes no papel de uma estudante hippie idealista que rouba a senha do Twitter do prefeito de Juazeiro do Norte e, por DM, dispensa IPTU da população e canoniza Padim Ciço, fazendo uma revolução só comparável à ascensão da célula mitocondrial, elementar no desenvolvimento do homo sapiens”, acrescentou.
A assessoria do Geopark Araripe nega haver cedido fósseis de tilápia e de uma réplica de Neandertal para caracterização de parte dos cenários do filme, mas jovens da localidade já recebem treinamento da preparadora de elenco Fátima Toledo para atuarem como verdadeiros homos retrôs cearensis.
A única dúvida do cineasta paulista é quanto à participação do DJ e ator Bruno De Luca na megaprodução. “Dependendo do meu humor até o ano que vem, ele poderá fazer um líder tribal que rouba víveres e artefatos antigos das comunidades sob a promessa de construir banheiros públicos”, adianta o diretor, que não estava acompanhado da esposa, a cearense de Brejo Santo Antonia Fontenelle.
De qualquer maneira, o fato incontornável é que nunca antes remexer a terra seca e peneirar o solo calcinado de Araripe revelaram tanto em tão pouco tempo da personalidade de um povo cujos hábitos intrigam acadêmicos, soldados do Ronda, galegos da Parangaba e ex-agentes da Sucam. As escavações seguem em ritmo de ciranda, ao som de Ednardo e entretidas por teatrinho de bonecos. Nos intervalos, pegadinhas do Mução animam os cientistas, que vieram da Universidade Federal de Pernambuco, do Museu Nacional (Rio de Janeiro) e da Universidade Regional do Cariri.
A partir de cotocos de suposto ancestral, traços marcantes da cearensidade (preferir colher a talher, rua a calçada, goiaba a uva, dindim a pudim, Lux a Dove, açude a praia) agora podem ser plenamente compreendidos. Com o achado do elo perdido de José de Alencar, Tiririca, Rachel de Queiroz, Fagner e Clodoaldo, nossos modos de ser&parecer vêm à camada mais superficial do distrito de Baixo Grande. Rapidamente, procede-se à análise dessa matéria-prima formidável, recolhida em sacolas de supermercado e acondicionada na traseira de uma Kombi.
Os resultados, mesmo inconclusivos, depõem contra a teoria segundo a qual a espécie humana teria se originado na África oriental. “Pelo que pudemos constatar até aqui, o berço da humanidade remonta a um povoado sobralense. De lá os primeiros exemplares da raça se espalharam pelo mundo”, resume Esdras Tutancâmon Ferreira Gomes, coordenador das escavações no Araripe.
Por ora, as novidades provenientes da pesquisa, que devem alterar drasticamente o campo das ciências, não serão exigidas na próxima prova do Enem. “Vamos aguardar o fim das escavações e a formulação e análise detidas das provas materiais antes de pedir que candidatos respondam se a pessoa humana pré-histórica enterrada no Araripe tinha essa mania curiosa de guardar o muciço da galinha pra comer no final”, responde o ministro da Educação, Fernando Haddad.
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