Há descompasso, que é descompasso? É desentendimento
nos quereres e poderes, assim, pluralizados, de modo que impera agora
sentimento desgovernado, dito desta maneira soa até leviano, bobo,
ridiculamente infantil, mas o fato é que há sempre descompasso entre o querer
nosso e o querer da realidade, sendo a última mais forte, incontornável e
indiferente, só nos resta colocar a viola no saco e partir – partir ao meio,
encerrando cada coisa em seu lugar, ou partir, encaminhando-se diligentemente à
porta de saída, se bem me entendem há maneiras e maneiras de cotejar o desejo,
confrontar a parede, nenhuma delas exige menos que a dor, nenhuma concede salvo-conduto,
nenhuma abre mão de uma boa briga, a todos o meu muito boa sorte.
Tenho ouvido cada vez mais “troca” como sinônimo de diálogo, ou seja, o ato de ter com um interlocutor qualquer fluxo de conversa, amistosa ou não, casual ou não, proveitosa ou não. No caso de troca, porém, trata-se sempre de uma coisa positiva, ao menos em princípio. Trocar é desde logo entender-se com alguém, compreender seu ponto de vista, colocar-se em seu lugar, mas não apenas. É também estar a par das razões pelas quais alguém faz o que faz, pensa o que pensa e diz o que diz. Didatizando ainda mais, é começar uma amizade. Na nomenclatura mercantil/militar de hoje, em que concluir uma tarefa é “entrega”, malhar é “treinar”, pensar na vida é “reconfigurar o mindset” e praticar é “aprimorar competências”, naturalmente a conversa passa à condição de troca. Mas o que se troca na troca de fato? Que produto ou substância, que valores e capitais se intercambiam quando duas ou mais pessoas se põem nessa condição de portadores de algo que se transmite? Fiquei pensando nisso mais te...