Às vezes calho de gostar de redundâncias, de repetições gratuitas, exageros, partículas cuja função é realçar o que já tem relevo ou explicitar o que está evidente, o tipo de gordura que os editores eliminam na primeira leitura, que eu eliminaria num dia de mau humor, mas não agora, não hoje, não neste momento, neste domingo. Lá fora há crianças na piscina desafiando-se em saltos desajeitados registrados em celulares por pais e mães diligentes que sofrem de FOMO se não estiverem flagrando cada pequeno instante do crescimento de seus filhos, numa afetividade quase performática, sempre disposta a projetar o que os pequenos têm de melhor para o mundo e também o quanto são pais zelosos que administram zelosamente o progresso de sua prole. Naturalmente também sou assim, também fotografo e gravo minhas filhas às voltas com toda trivialidade, brincadeiras e garatujas verbais que inventam, a mais velha por sua graça e inteligência e a mais nova porque está aprendendo a falar. De modo que a...
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)