Fenômeno de fácil percepção exatamente por sua raridade, a adultização dos adultos precisa estar na ordem do dia nestes tempos de bonecos para maiores de 18 anos e literatura “young adult”, num alargamento do que se entende por “adultescer”. Veja-se o caso dos Labubus, por exemplo, criaturas horrorosas de dentes serrilhados e orelhas de coelho figurando como acessórios, estampando camisetas e sendo disputadas a tapa por um exército de jovens na casa dos 40 anos dispostos a pagar uma fortuna por sua traquitana. Se o apocalipse climático ou o genocídio em Gaza se mostram incapazes de cimentar um afeto de pertença global ou planetário, o mesmo não se dá com o Labubu, cuja mensagem rapidamente se alastrou, consumida como produto e crença porque, ao fim e ao cabo, não querem dizer nada mesmo, não remetem a nada, não pretendem nada, exceto se reproduzir como signo de uma estética desencarnada – espécie de conforto existencial num mundo desamparado. Esses brinquedos se constituem da mes...
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)