Mesmerizado com tanta repercussão, me pergunto por que o morango do amor caiu nas graças do algoritmo das redes, e não a uva da indiferença, a seriguela da paixão ou o maracujá da raiva. O caqui da inveja, por exemplo, também tem lá o seu apelo estético-gastronômico, assim como a banana do enfado e o abacate do ódio, a melancia da preguiça e o murici do descontentamento. E o que dizer da goiaba da maledicência e do abacaxi do tesão? Nenhum houve por bem granjear meia dúzia de likes nestes tempos de uma febril imediaticidade internética. Nenhum logrou produzir fotos sob o mesmo ângulo atraente de um morango suavemente seccionado em diagonal, suas camadas revelando-se como um segredo de alcova tão bem guardado, as sementinhas pontilhando aqui e ali como sardas nas maçãs do rosto. Mais importante: nenhum manipula a audiência com a mesma habilidade e soft power de um morango. Mesmo a pitomba, vejam só, uma fruta tão simpática na sua miudeza e sabor, tão adorável e discreta, tão simples e...
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)