Estava decidido, seriam todas escravas, brancas, negras, mulatas, pardas, altas, magras, cheias, fleumáticas, risonhas, cínicas, maledicentes, leitoras, mantidas em calabouço próprio, privado, pessoal, particular, refrigerado, pouca luz, isolado, alimentadas como convém, vestidas com os panos da moda, escravas brancas, pretas, um sortimento variado e duradouro, escravas do sexo, não repetiria escolhas por dois ou três anos, teria as mulheres que quisesse, podia pagar, custasse o que custasse, podia pagar, jovens, muito jovens, maduras, velhas, não haveria segregação, prometeu a si mesmo enquanto a luzinha do caixa rápido do supermercado indicava algum tipo de engodo bem debaixo do seu nariz.
Tenho ouvido cada vez mais “troca” como sinônimo de diálogo, ou seja, o ato de ter com um interlocutor qualquer fluxo de conversa, amistosa ou não, casual ou não, proveitosa ou não. No caso de troca, porém, trata-se sempre de uma coisa positiva, ao menos em princípio. Trocar é desde logo entender-se com alguém, compreender seu ponto de vista, colocar-se em seu lugar, mas não apenas. É também estar a par das razões pelas quais alguém faz o que faz, pensa o que pensa e diz o que diz. Didatizando ainda mais, é começar uma amizade. Na nomenclatura mercantil/militar de hoje, em que concluir uma tarefa é “entrega”, malhar é “treinar”, pensar na vida é “reconfigurar o mindset” e praticar é “aprimorar competências”, naturalmente a conversa passa à condição de troca. Mas o que se troca na troca de fato? Que produto ou substância, que valores e capitais se intercambiam quando duas ou mais pessoas se põem nessa condição de portadores de algo que se transmite? Fiquei pensando nisso mais te...
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