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Cravo, alecrim e cacto


Isto é um blog de cinema? Definitivamente, não. É um blog de literatura? Não. É um blog pessoal? Também não. É um blog sobre internet, sobre outros blogs?

É um blog do instante. Não tem poesia. Não quer ter. Detesta poesia. É um blog antivanguarda. É um blog reacionário – partido da reação. É um blog sem atualizações. É um blog – mas poderia ser diário. Poderia ser livro. Poderia ser filme, curta, longa, média. Poderia ser um retrato, um quadro, um disco, um rosto, um gozo, um filho.

Um filho? Até um filho.

Mas pode nem ser blog. É um conjunto heterogêneo de textos mal-escritos. Não tem imodéstia. É isso. São escritos quentemente – porque nascem antes do pensamento. Textos vêm antes do pensamento. Saem. Como a tia que vai embora da festa de Natal antes que a nora chegue. As duas não se dão. Uma acha que a outra quer ir para a cama com o marido – o marido da outra.

Podiam trocar de marido, fazer um swing. Resolveriam o impasse.

Agora, vamos dizer que o autor – OSKAR – vem se divertindo escrevendo (meu Deus, como é estranho dois gerúndios lado a lado) o que lhe dá na cabeça.

Quero desenhar minhas próprias tiras. Tenho um caderno em branco e quatro canetas Bic novinhas: verde, vermelha, preta e azul. Além da lapiseira que ganhei de presente de aniversário. Pertencia a uma ex-colega de trabalho. Jamais esquecerei o gesto. Porque adoro lapiseiras, são símbolos da infância. Escreve tão bem.

Farei isso agora. Desenhar. Tirinhas de humor. Esperem. Serão publicadas aqui mesmo. Esperem mesmo. Quero fazer isso em algum momento. Além do livro no ano que vem. Quero fazer.

E ser pai.

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