O amigo envia uma mensagem falando de BBB e dos gatilhos do programa, esses mecanismos que acionam o pior, fazem reviver situações constrangedoras, dolorosas, reabrem feridas e provocam a emersão de conteúdos já recalcados de alguma maneira, coisas que talvez preferíssemos esquecer.
“Tô falando como homem branco, cis, hetero”, ele enfatiza, ecoando Fiuk, o avatar do homem cis, branco, hetero & desconstruído, um conjunto de predicados que, sabemos todos, quase sempre dá em coisa ruim, sobretudo quando agenciam (posso, Lumena?) categorias a fim de se fazer passar por bom moço.
O amigo não pergunta nada, apenas diz “e o BBB?”, na pergunta em si embutindo um sentido de reflexão que dispensa aprofundamento, porque hoje em dia qualquer referência ao programa já vem naturalmente carregada de uma multiciplicidade de sentidos (posso, Lumena?) conflitantes e incômodos.
No fundo, é isso mesmo, o incômodo escancarado de se ver tão bem representado por figuras públicas numa corrida pelo ouro do milhão e meio. Aliás, esqueçam o dinheiro. O lance é saber quem chega com vida ao final. Quem escapa. E arrisco dizer: ninguém. Todo mundo sai esgotado desse circo.
Eu devolvo, pois é, “e o BBB?”, e ouço depois como resposta a respiração e o suspiro de cansaço. O peso de uma verdade exposta com essa crueza na TV aberta. Em seguida, diz que nunca mais vai usar certas palavras. Pergunto quais. Ele cita: descontruído. E depois ri, porque a desconstrução foi a primeira vítima do programa.
Pelo menos o tipo de desconstrução que está em voga, essa que sugere como possibilidade uma espécie de harmonização não facial, mas política e ética (posso, Lumena?), processo cirúrgico a que Fiuk (e, em alguma medida, a gente também) se submeteu na esperança de incorporar artificiosamente um léxico, de anexar uma gramática, sem jamais entender de fato o que está em jogo, a que conteúdos ela se refere.
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