Eu vi o rio e ele corria ao contrário. Ou simplesmente
não corria, ficava parado, olhando pros lados, à procura sabe-se deus de quê, o
certo é que procurava, e logo retomava a corrida, agora em movimentos
espasmódicos, nada da fluidez e a qualidade caudalosa anteriores, o rio, esse
rio que eu vi numa quarta-feira de janeiro há tanto tempo que começo a duvidar,
corria para todos os lados e nenhum.
Numa dessas andanças pelo shopping, o anúncio saltou da fachada da loja: “museu da selfie”. As palavras destacadas nessa luminescência característica das redes, os tipos simulando uma caligrafia declinada, quase pessoal e amorosa, resultado da combinação do familiar e do estranho, um híbrido de carta e mensagem eletrônica. “Museu da selfie”, repeti mentalmente enquanto considerava pagar 20 reais por um saco de pipoca do qual já havia desistido, mas cuja imagem retornava sempre em ondas de apelo olfativo e sonoro, a repetição do gesto como parte indissociável da experiência de estar numa sala de cinema. Um museu, por natureza, alimenta-se de matéria narrativa, ou seja, trata-se de espaço instaurado a fim de que se remonte o fio da história, estabelecendo-se entre suas peças algum nexo, seja ele causal ou não. É, por assim dizer, um ato de significação que se estende a tudo que ele contém. Daí que se fale de um museu da seca, um museu do amanhã, um museu do mar, um museu da língua e por