Enquanto
não vinha, enquanto esperava, pedi que piscasse, vamos, quero vê-la piscar, não
uma nem duas, mas três ou seis ou nove vezes, regime de progressão assimétrica,
era um desafio, era bonito vê-la enrugar o cenho, meninice evidente, “tô
tentando, tô tentando”, tenha calma, fingia aperrear-se e ria, ria, é pra já, era
noite, era frio, era quente, o tempo de setembro provando ser mais que um
triângulo das bermudas perdido no calendário, um instantinho de felicidade dura
para sempre, um instantinho de felicidade – olhos piscando – é maior que
qualquer felicidade.
Numa dessas andanças pelo shopping, o anúncio saltou da fachada da loja: “museu da selfie”. As palavras destacadas nessa luminescência característica das redes, os tipos simulando uma caligrafia declinada, quase pessoal e amorosa, resultado da combinação do familiar e do estranho, um híbrido de carta e mensagem eletrônica. “Museu da selfie”, repeti mentalmente enquanto considerava pagar 20 reais por um saco de pipoca do qual já havia desistido, mas cuja imagem retornava sempre em ondas de apelo olfativo e sonoro, a repetição do gesto como parte indissociável da experiência de estar numa sala de cinema. Um museu, por natureza, alimenta-se de matéria narrativa, ou seja, trata-se de espaço instaurado a fim de que se remonte o fio da história, estabelecendo-se entre suas peças algum nexo, seja ele causal ou não. É, por assim dizer, um ato de significação que se estende a tudo que ele contém. Daí que se fale de um museu da seca, um museu do amanhã, um museu do mar, um museu da língua e por