Pular para o conteúdo principal

NEVER Morre... Never MORRE!


Muito cuidado com os comentários, minha gente. Não quero ser processado. Sequer tenho a décima parte do que pede a justiça no caso Emílio Moreno. Portanto, contenham-se. Não falem tanto. Não sejam baixos. Nem vulgares. Não ataquem pelas costas. Não firam egos. Não exultem quando os seus inimigos acharem que a vida já não tem sentido algum.

Enfim. Sejam cordatos. Sejam finos. E assoviem quando pisarem nos seus pés. Estou aqui, andando, andando. Correndo quando o apito soa histérico. E andando quando há brisa, e a pressa é apenas hábito incurável.

Aviso logo: ontem fui ao TJA. Vi aquela peça. Do italiano que mudou radicalmente os paradigmas do teatro cartesiano, estabelecendo pontes sólidas entre o movimento uniforme e a física quântica, construindo noções antitéticas entre poesia, futebol e videogames, invocando arquétipos enterrados por camadas espessas de desumanização ao longo dos tempos.

Digo também: não entendi nada. Achei bastante chata. E quase tive a maior crise de risos da minha vida inteira. Enquanto a dois metros da cadeira a atriz encarava um crânio de plástico vestido com um terno e enfeitado com três margaridas, Andorinha cochichou algo solidamente incrível no meu ouvido.

Cochichou: “Será que ele era o marido dela?”

Fiquei vermelho, azul, amarelo. Fixei um ponto escuro acima da minha cabeça. Identifiquei poeira suspensa no ar, magnetizei os pensamentos, recordei o enterro do meu tio há dois anos. Em vão. Ao lado, ela se sacudia, reprimindo politicamente um riso que deveria ter sido liberado naquele salão embalsamado.

Mas não. Reprimimos a investida do humor como a parteira que devolve a criança ao útero da mãe quando o descobre deficiente – o filho, não o útero.

Fim da história. Como diz o corvo: NEVER MORE.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Trocas e trocas

  Tenho ouvido cada vez mais “troca” como sinônimo de diálogo, ou seja, o ato de ter com um interlocutor qualquer fluxo de conversa, amistosa ou não, casual ou não, proveitosa ou não. No caso de troca, porém, trata-se sempre de uma coisa positiva, ao menos em princípio. Trocar é desde logo entender-se com alguém, compreender seu ponto de vista, colocar-se em seu lugar, mas não apenas. É também estar a par das razões pelas quais alguém faz o que faz, pensa o que pensa e diz o que diz. Didatizando ainda mais, é começar uma amizade. Na nomenclatura mercantil/militar de hoje, em que concluir uma tarefa é “entrega”, malhar é “treinar”, pensar na vida é “reconfigurar o mindset” e praticar é “aprimorar competências”, naturalmente a conversa passa à condição de troca. Mas o que se troca na troca de fato? Que produto ou substância, que valores e capitais se intercambiam quando duas ou mais pessoas se põem nessa condição de portadores de algo que se transmite? Fiquei pensando nisso mais te...

Atacarejo

Gosto de como soa atacarejo, de seu poder de instaurar desde o princípio um universo semântico/sintático próprio apenas a partir da ideia fusional que é aglutinar atacado e varejo, ou seja, macro e micro, universal e local, natureza e cultura e toda essa família de dualismos que atormentam o mundo ocidental desde Platão. Nada disso resiste ao atacarejo e sua capacidade de síntese, sua captura do “zeitgeist” não apenas cearense, mas global, numa amostra viva de que pintar sua aldeia é cantar o mundo – ou seria o contrário? Já não sei, perdido que fico diante do sem número de perspectivas e da enormidade contida na ressonância da palavra, que sempre me atraiu desde que a ouvi pela primeira vez, encantado como pirilampo perto da luz, dardejado por flechas de amor – para Barthes a amorosidade é também uma gramática, com suas regras e termos, suas orações subordinadas ou coordenadas, seus termos integrantes ou acessórios e por aí vai. Mas é quase certo que Barthes não conhecesse atacarejo,...

Projeto de vida

Desejo para 2025 desengajar e desertar, ser desistência, inativo e off, estar mais fora que dentro, mais out que in, mais exo que endo. Desenturmar-se da turma e desgostar-se do gosto, refluir no contrafluxo da rede e encapsular para não ceder ao colapso, ao menos não agora, não amanhã, não tão rápido. Penso com carinho na ideia de ter mais tempo para pensar na atrofia fabular e no déficit de imaginação. No vazio de futuro que a palavra “futuro” transmite sempre que justaposta a outra, a pretexto de ensejar alguma esperança no horizonte imediato. Tempo inclusive para não ter tempo, para não possuir nem reter, não domesticar nem apropriar, para devolver e para cansar, sobretudo para cansar. Tempo para o esgotamento que é esgotar-se sem que todas as alternativas estejam postas nem os caminhos apresentados por inteiro. Tempo para recusar toda vez que ouvir “empreender” como sinônimo de estilo de vida, e estilo de vida como sinônimo de qualquer coisa que se pareça com o modo particular c...