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Here and there

Então...

Não tem fim. Quando imagino haver exterminado o último morto-vivo de Raccom, ouço grunhidos e arrastar de pés. Me preparo para o pior sacando uma sub-metralhadora com munição infinita. Em breve, estraçalho esse farrapo que insiste em assombrar a raça humana alimentando-se de nossa carne. Mas há outros deles. Logo duas dezenas desentocam-se de corredores, abrindo e fechando portas, subindo ou descendo escadas. Querem a mim. Sem dúvida alguma, devem ter chegado à conclusão: para o jantar, teremos o soldado Leon.

Então só me resta correr? Nada. Caminho até o baú mais próximo, desses que costumam guardar os pertences dos nossos avós nas casas caiadas da infância. Ao contrário dos baús da memória, esse de que falo contém pequenas jóias: rifles, lança-granadas e metralhadoras giratórias. Além de facas e pedaços que, se agrupados devidamente, formam uma bomba relógio ou coisa parecida. Abro-o e tiro de lá a mais potente das armas disponíveis. Fim da piada. Posso dormir sossegado ao menos esta noite.

Tanto que fazer. Tanto mesmo. Mas só quero terminar a primeira temporada de “Lost” e começar a segunda. Quem sabe emendar na terceira. E parar para respirar.

Ontem, escrevi isto no jornal. ELE É SIMPLESMENTE O CARA MAIS ENGRAÇADO QUE JÁ LI. Disse e repito: se você acha que pode arrancar muitos risos contando uma piada ou simplesmente relatando uma situação corriqueira, David Sedaris pode ser bastante melhor usando o mesmo número de palavras e gestos. Ou, vejamos, usando a metade das palavras e gestos que você deverá usar.

Engraçado não ter lido absolutamente nada da revista neste mês. Agora, leio um artigo na “Cult” sobre Pierre Bourdieu. Bom, é isso mesmo. Até aqui, nada demais. Se quiserem ler também, basta apontar o cursor do mouse para e clicar em cima. Uma janela abrir-se-á maravilhosamente.

Terminei um e comecei outro, do Mangabeira Unger. Sim, dele mesmo.

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