Que se escreva não à noite, mas durante o dia, por
alguém que acredite ser noite e não dia, que troque as horas e as luzes, que
confunda claro e escuro e de vez em quando até nem veja diferença entre uma coisa
e outra, estando e não estando, alguém cuja falta de capacidade para distinguir
mudanças climáticas e pequenas alterações não seja um embaraço, um fardo, mas
um motivo de alegria, um contentamento qualquer como dinheiro encontrado no
bolso da calça dobrada no espaldar da cadeira.
Tenho ouvido cada vez mais “troca” como sinônimo de diálogo, ou seja, o ato de ter com um interlocutor qualquer fluxo de conversa, amistosa ou não, casual ou não, proveitosa ou não. No caso de troca, porém, trata-se sempre de uma coisa positiva, ao menos em princípio. Trocar é desde logo entender-se com alguém, compreender seu ponto de vista, colocar-se em seu lugar, mas não apenas. É também estar a par das razões pelas quais alguém faz o que faz, pensa o que pensa e diz o que diz. Didatizando ainda mais, é começar uma amizade. Na nomenclatura mercantil/militar de hoje, em que concluir uma tarefa é “entrega”, malhar é “treinar”, pensar na vida é “reconfigurar o mindset” e praticar é “aprimorar competências”, naturalmente a conversa passa à condição de troca. Mas o que se troca na troca de fato? Que produto ou substância, que valores e capitais se intercambiam quando duas ou mais pessoas se põem nessa condição de portadores de algo que se transmite? Fiquei pensando nisso mais te...