Um último e dispensável parágrafo diz respeito a todos
os parágrafos anteriores, ou seja, relaciona-se tanto à felicidade quanto ao modo
como o tema aparece de forma esquiva logo abaixo, com indicações claras de que,
ainda que estejamos falando há milênios sobre um mesmo assunto, o que fica
evidente é o seguinte: o que está ao alcance de qualquer um é unicamente cavar e
continuar cavando e no esforço de cavar danificar mãos e cegar as ferramentas
e, a despeito disso, continuar, mesmo quando as escoras ameaçarem vergar sob o
peso da areia que foi retirada do buraco e depositada um pouco acima das nossas
cabeças, forçando o teto e estreitando corredores. Mesmo nessas horas, abrir
buracos na terra e esperar que de lá saltem coelhos ou elefantes ou finalmente aquela criatura mágica que estamos procurando faz tempo e que certamente nos fará felizes é tudo que de fato interessa.
Tenho ouvido cada vez mais “troca” como sinônimo de diálogo, ou seja, o ato de ter com um interlocutor qualquer fluxo de conversa, amistosa ou não, casual ou não, proveitosa ou não. No caso de troca, porém, trata-se sempre de uma coisa positiva, ao menos em princípio. Trocar é desde logo entender-se com alguém, compreender seu ponto de vista, colocar-se em seu lugar, mas não apenas. É também estar a par das razões pelas quais alguém faz o que faz, pensa o que pensa e diz o que diz. Didatizando ainda mais, é começar uma amizade. Na nomenclatura mercantil/militar de hoje, em que concluir uma tarefa é “entrega”, malhar é “treinar”, pensar na vida é “reconfigurar o mindset” e praticar é “aprimorar competências”, naturalmente a conversa passa à condição de troca. Mas o que se troca na troca de fato? Que produto ou substância, que valores e capitais se intercambiam quando duas ou mais pessoas se põem nessa condição de portadores de algo que se transmite? Fiquei pensando nisso mais te...