Um último e dispensável parágrafo diz respeito a todos
os parágrafos anteriores, ou seja, relaciona-se tanto à felicidade quanto ao modo
como o tema aparece de forma esquiva logo abaixo, com indicações claras de que,
ainda que estejamos falando há milênios sobre um mesmo assunto, o que fica
evidente é o seguinte: o que está ao alcance de qualquer um é unicamente cavar e
continuar cavando e no esforço de cavar danificar mãos e cegar as ferramentas
e, a despeito disso, continuar, mesmo quando as escoras ameaçarem vergar sob o
peso da areia que foi retirada do buraco e depositada um pouco acima das nossas
cabeças, forçando o teto e estreitando corredores. Mesmo nessas horas, abrir
buracos na terra e esperar que de lá saltem coelhos ou elefantes ou finalmente aquela criatura mágica que estamos procurando faz tempo e que certamente nos fará felizes é tudo que de fato interessa.
Numa dessas andanças pelo shopping, o anúncio saltou da fachada da loja: “museu da selfie”. As palavras destacadas nessa luminescência característica das redes, os tipos simulando uma caligrafia declinada, quase pessoal e amorosa, resultado da combinação do familiar e do estranho, um híbrido de carta e mensagem eletrônica. “Museu da selfie”, repeti mentalmente enquanto considerava pagar 20 reais por um saco de pipoca do qual já havia desistido, mas cuja imagem retornava sempre em ondas de apelo olfativo e sonoro, a repetição do gesto como parte indissociável da experiência de estar numa sala de cinema. Um museu, por natureza, alimenta-se de matéria narrativa, ou seja, trata-se de espaço instaurado a fim de que se remonte o fio da história, estabelecendo-se entre suas peças algum nexo, seja ele causal ou não. É, por assim dizer, um ato de significação que se estende a tudo que ele contém. Daí que se fale de um museu da seca, um museu do amanhã, um museu do mar, um museu da língua e por