É uma história simples a que desejava contar. Imaginem um garoto como o que acabo de desenhar ficcionalmente. Alguns dias antes de completar 14 anos, contrariando a tradição familiar, o menino decide não saltar mais.
Na verdade, é menos uma escolha que uma desistência.
Rapazes da mesma idade e até mais novos seguem pulando. É o que sempre fizeram. Tomam distância, respiram fundo, sincronizam mentalmente a corrida, a ordem de cada perna, a entrada na água, o tempo de imersão, a escalada de volta à superfície da ponte velha.
A corrida é disparada. A perna direita alcança a primeira coluna. Imaginem que, ao menor erro, despencam de cabeça e que, logo abaixo, há corais pontiagudos e estruturas de ferro da velha construção.
Sem pausa, emenda-se o segundo pulo, que toca de leve outra coluna, e, finalmente, o terceiro. É o trampolim para o mergulho nas águas encrespadas do mar da cidade.
Os turistas aplaudem. Novos saltadores estão a postos.
Entre corrida e mergulho, toda a manobra não leva mais que cinco segundos, e não é tão diferente do salto à distância: dois pulinhos antes do pulo maior, que deve cobrir a maior extensão possível. Um, dois, três e pulo, um, dois, três e pulo... Vale para a areia, vale para o mar.
A história que deseja contar não explica por que o garoto falha. Sequer cogita hipóteses mínimas, um mecanismo psicológico não é acionado, uma "luz" não se acende, uma "peça" já desgastada não responde ao comando do corpo?
Não haverá respostas. A história contenta-se em narrar. O menino não saltará e pronto.
É impossível, conclui, determinar o motivo.
Tenho ouvido cada vez mais “troca” como sinônimo de diálogo, ou seja, o ato de ter com um interlocutor qualquer fluxo de conversa, amistosa ou não, casual ou não, proveitosa ou não. No caso de troca, porém, trata-se sempre de uma coisa positiva, ao menos em princípio. Trocar é desde logo entender-se com alguém, compreender seu ponto de vista, colocar-se em seu lugar, mas não apenas. É também estar a par das razões pelas quais alguém faz o que faz, pensa o que pensa e diz o que diz. Didatizando ainda mais, é começar uma amizade. Na nomenclatura mercantil/militar de hoje, em que concluir uma tarefa é “entrega”, malhar é “treinar”, pensar na vida é “reconfigurar o mindset” e praticar é “aprimorar competências”, naturalmente a conversa passa à condição de troca. Mas o que se troca na troca de fato? Que produto ou substância, que valores e capitais se intercambiam quando duas ou mais pessoas se põem nessa condição de portadores de algo que se transmite? Fiquei pensando nisso mais te...
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