Foi logo depois de haver lido um artigo científico sobre escrita espontânea e livre associação de ideias, primeiramente sequer relacionou a manifestação ininterrupta e o encadeamento anárquico das frases, mas em segundos tudo fez sentido, e o emaranhado antes indistinto ganhou corpo reconhecível, era algo mágico, repetia a si mesmo, bebendo em seguida um gole de cerveja, essa sensação produziu uma fagulha de prazer imediato, não a da cerveja, então se sentou mais uma vez e quando tudo parecia finalmente “harmonizado cosmicamente” como sempre desejaram que estivesse, o que viu desenhar-se na parede descascada do banheiro foi um conjunto heterogêneo de entulho produzido durante o tempo em que estavam juntos, cada monte de chorume desafiando a necessidade que tinham um do outro, cada santa, cada aparição miraculosa acenando para um desfecho.
O que fariam de agora em diante, não havia dúvida, dependeria do que enxergassem naquela miragem, se milagre ou abismo.
Tenho ouvido cada vez mais “troca” como sinônimo de diálogo, ou seja, o ato de ter com um interlocutor qualquer fluxo de conversa, amistosa ou não, casual ou não, proveitosa ou não. No caso de troca, porém, trata-se sempre de uma coisa positiva, ao menos em princípio. Trocar é desde logo entender-se com alguém, compreender seu ponto de vista, colocar-se em seu lugar, mas não apenas. É também estar a par das razões pelas quais alguém faz o que faz, pensa o que pensa e diz o que diz. Didatizando ainda mais, é começar uma amizade. Na nomenclatura mercantil/militar de hoje, em que concluir uma tarefa é “entrega”, malhar é “treinar”, pensar na vida é “reconfigurar o mindset” e praticar é “aprimorar competências”, naturalmente a conversa passa à condição de troca. Mas o que se troca na troca de fato? Que produto ou substância, que valores e capitais se intercambiam quando duas ou mais pessoas se põem nessa condição de portadores de algo que se transmite? Fiquei pensando nisso mais te...
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