O DIA D DO PLANTÃO GRAMATICAL
ACOSTUMADOS A UMA ROTINA DIÁRIA DE ATÉ CINCO HORAS NO BATENTE, OS PROFESSORES QUE INTEGRAM A EQUIPE DO MAIS ANTIGO TIRA-DÚVIDAS DO BRASIL, O PLANTÃO GRAMATICAL DO IMPARH, DESCOBRIRAM COMO O PORTUGUÊS AINDA DESPERTA INTERESSE NAS PESSOAS
HENRIQUE ARAÚJO>>>ESPECIAL PARA O POVO
No dia 7 de janeiro de 2009, o fortalezense parece ter acordado disposto a sanar todas as suas dúvidas sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa recorrendo ao Plantão Gramatical mantido pela prefeitura da capital cearense. No tira-dúvidas, apenas durante as 10 horas ininterruptas de expediente daquela quarta-feira, foram atendidas mais de uma centena de chamadas, classificadas no formulário dentro das nove categorias existentes: sintaxe, exegese textual, estilística, linguística, abreviaturas, conhecimentos gerais, pontuação, produção textual e literatura. “Foram quase todas só de dúvidas sobre o Acordo”, rememora Illiana da Costa Forte, coordenadora da equipe de sete professores e professoras plantonistas. Para eles, era como se a língua portuguesa tivesse feito uma pequena parcela dos habitantes da cidade passar a noite em claro, rolando de um lado para outro da cama, os sonhos varridos por letras e acentos gráficos. Motivos não faltavam.
O principal deles: o emprego do hífen. Se as regras antigas de hifenização já não eram exatamente um exemplo de simplicidade, o mero fato de mudanças terem sido produzidas em um terreno pantanoso causou muito desconforto. Como se, do dia para a noite, o chão tivesse faltado. No Plantão, o resultado foi uma ligação a cada cinco minutos. Grosso modo, a dúvida era uma só: como usar corretamente o traço que separa algumas palavras? “Sim, o grande problema foi mesmo o hífen”, endossa a coordenadora. Para Illiana, porém, é uma questão de tempo até que todas as alterações sejam assimiladas. Inclusive as novas regras de hifenização. Ela garante que, antes disso, houve uma reforma realmente indigesta. “A de 1971 foi pior.” Nessa época, Illiana morava no Rio de Janeiro e grafava um sem-número de palavras com acento diferencial. Até que, em renovada tentativa de simplificação da língua escrita, veio uma nova onda reformista e acabou com tantos acentos. Então, as mudanças foram bem mais mensuráveis.
Assinado por todos os países-membros da CPLP em 1990, o Acordo Ortográfico aprovado em 1990 e ratificado apenas por Brasil, Portugal, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde prevê abalos menos radicais na língua. Na verdade, infinitamente menores. Entre as alterações, a perda do acento agudo nos ditongos abertos “ei”, “oi” e “eu” em paroxítonas e o fim do circunflexo em hiatos cuja terminação apresente vogais duplas. Caso de “vôo”, “perdôo”, “enjôo”, “vêem”, “lêem” e “prevêem” - de acordo com o novo regramento ortográfico, essas palavras passam a ser grafadas sem acento. O acréscimo das letras “w”, “y” e “k” apenas oficializa o que já era prática corriqueira. Afinal, quem não conhece na sua rua ou condômino um Walter, uma Karina ou um Yan?
Embora preveja transformações reduzidas, a entrada em vigor do Acordo ensejou um pequeno ciclo de reuniões entre os “bombeiros da gramática”. Lá mesmo, no Instituto Municipal de Pesquisas, Administração e Recursos Humanos (Imparh), órgão responsável por gerir o Plantão, os professores-plantonistas resolveram analisar minuciosamente as mudanças. A ação foi rápida. Depois disso, cada um passou a estudar separadamente o Acordo, averiguar possíveis casos omissos (“o Acordo não diz nada sobre o prefixo ‘re’”, aponta Marilene Barbosa Pinheiro, mestre em linguística e integrante do tira-dúvidas). Processado o update, um estratagema foi elaborado. Logo veio 2009 e com ele a enxurrada de dúvidas. Do outro lado da linha, porém, o grupo chefiado por Illiana colocava no chinelo grandes e ineficientes call centers - como os de algumas empresas de telefonia. De modo geral, uma dúvida, respondida via fax, telefone ou presencialmente, mesmo quando o tema é Acordo Ortográfico, é esclarecida em até três minutos.
SERVIÇO:
Plantão Gramatical, atendimento das 8 às 18 horas. As questões podem ser feitas por telefone, via fax ou presencialmente. Telefone: 3225 1979 ou 3433 2971. O Plantão Gramatical integra o Instituto Municipal de Pesquisas, Administração e Recursos Humanos (Imparh), na avenida João Pessoa, 5609, Damas.
Tenho ouvido cada vez mais “troca” como sinônimo de diálogo, ou seja, o ato de ter com um interlocutor qualquer fluxo de conversa, amistosa ou não, casual ou não, proveitosa ou não. No caso de troca, porém, trata-se sempre de uma coisa positiva, ao menos em princípio. Trocar é desde logo entender-se com alguém, compreender seu ponto de vista, colocar-se em seu lugar, mas não apenas. É também estar a par das razões pelas quais alguém faz o que faz, pensa o que pensa e diz o que diz. Didatizando ainda mais, é começar uma amizade. Na nomenclatura mercantil/militar de hoje, em que concluir uma tarefa é “entrega”, malhar é “treinar”, pensar na vida é “reconfigurar o mindset” e praticar é “aprimorar competências”, naturalmente a conversa passa à condição de troca. Mas o que se troca na troca de fato? Que produto ou substância, que valores e capitais se intercambiam quando duas ou mais pessoas se põem nessa condição de portadores de algo que se transmite? Fiquei pensando nisso mais te...
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